Marco Placas
Como cuidar de seu Trinca ?
O Trinca-ferro (Saltator similis) tem sua alimentação muito diversificada. Alimenta-se de uma grande variedade de sementes (alpiste, painços, girassol, aveia, cártamo, lentilha, sorgo, cânhamo...), rações peletizadas, frutas e legumes. Para quem está querendo criar em larga escala, esta diversificação acaba complicando muito o manejo e dificultando as condições de higiene, podendo levar as aves a quadros de diarréias e intoxicações diversas. Outro problema é que a ave adquire preferência por certos alimentos, como sementes maiores e mais oleosas, e isso faz com que sua dieta fique desbalanceada, levando a quadros de obesidade e subnutrição.
O ideal seria que o pássaro recebesse uma dieta única, onde ele possa ter todos os nutrientes que necessita (proteínas, açúcares, gorduras, vitaminas e sais minerais). As rações extrusadas facilitarão muito este trabalho e com certeza teremos melhores resultados.
Vou relatar minha experiência onde uso uma ração peletizada, como base da dieta, uma farinhada de boa qualidade, grite mineral e suplementação de aminoácidos, vitaminas e minerais.
Uso tanto na ração peletizada quando na farinhada, 1% do suplemento.
Alimento Vivo: É necessário fornecer larvas de tenébrio, como fonte de proteína animal para os filhotes. Nos primeiros dias de vida dos filhotes as fêmeas procuram basicamente por alimentos vivos. Um provável substituto será a farinha de minhoca, sendo adicionada na farinhada numa proporção de 2-3 %.
Água: A água de beber deve ser filtrada e os bebedouros bem limpos.
Os trincas têm o hábito de levar alimento para o bebedouro, criando assim um ambiente propício para surgimento de bactérias e de fungos. Por isso o bebedouro deve ser bem lavado.
Considerando que temos três fases na criação, reprodução, muda e manutenção, fornecemos estes alimentos da seguinte forma:
FÊMEAS
Reprodução – Fase de maior exigência, onde além das necessidades de manutenção a ave tem que produzir ovos e tratar dos filhotes.
Nesta fase é fornecida a ração peletizada e a farinhada seca, quando ainda não se tem filhotes, e umedecida, para trato dos filhotes.
Muda – É uma fase também de muita exigência e estresse.
Nesta fase é fornecida a ração peletizada e a farinhada seca, diminuindo a quantidade de farinhada à medida que a muda vá terminando.
Manutenção – É a fase de menor exigência, onde devemos preparar a ave para reprodução. Nesta fase a ave teve estar com uma plumagem completa, e uma condição corporal que possibilite passar pela fase de reprodução com uma boa produtividade sem prejudicar sua saúde.
Nesta fase é fornecida basicamente a ração peletizada. Com a aproximação do período reprodutivo, inicia-se com a farinhada em pouca quantidade e vai-se aumentando. Este aumento de alimento auxilia na preparação das aves para a reprodução.
Em todas as fases é fornecido o grite mineral à vontade.
MACHOS
Podemos seguir o mesmo esquema das fêmeas, fornecendo uma quantidade menor de farinhada do período de reprodução.
Para facilitar uma análise da condição corporal dos nossos pássaros, pensei numa forma de avaliação. Desta forma poderemos dizer com maior facilidade se o pássaro está gordo, magro, obeso ou em caquexia.
Escore um: Pássaro muito magro, peito em facão, musculatura atrofiada (caquexia).
Escore dois: Pássaro magro, peito com perda de massa muscular.
Escore três: Passaro com a musculatura cobrindo toda a quilha do peito, podendo apresentar pequena camada de gordura abdominal.
Escore quatro: Pássaro apresenta grande quantidade de gordura abdominal.
Escore cinco: Pássaro com grande quantidade de gordura no abdômen e no peito (peito-de-bombo).
O ideal é que o pássaro entre em reprodução com o escore corporal entre três e quatro.
O tamanho ideal para as gaiolas de criação é de 80 cm de comprimento, 40cm de altura e 30cm de profundidade para as gaiolas das fêmeas e 40x40x30 para os machos. As gaiolas devem ter uma grade móvel no fundo a uma altura maior que 3 cm da bandeja. Com esta grade evita-se que as fêmeas puxem o papel do fundo e diminui o contado direto com as fezes.
POLEIROS
Não podem ser lisos, de preferência frisados, com diâmetros variados.
NINHO
O ninho pode ser confeccionado em bucha ou sisal, com diâmetro de 10,5 cm e 6 cm de profundidade.
É importante fornecer raízes, sisal cortado em pedaços de até 8cm ou fibras de folha de coqueiro, para que a fêmea confeccione o ninho.
A maioria das fêmeas roda o ninho, mas deixa nele pouco material.
Algumas chegam a encher o ninho criando um espaço com o diâmetro bem menor.
Deve ser bem clara e arejada. Deve-se evitar cantos retos como soleiras de janelas, para que não haja acúmulo de poeira, penas, restos de alimento etc.
O Piso deve ser de fácil limpeza e as paredes de cor clara.
A melhor forma para se proceder na limpeza de qualquer utensílio, é seguir esta seqüência:
Primeiro temos que retirar as partículas maiores com jato de água. Isso facilita a ação dos detergentes e desinfetantes nas superfícies.
Em seguida podemos deixar de molho numa solução com detergente por 20-30 minutos e depois com uma escova ou uma bucha esfregar toda a superfície.
Enxaguar bem e depois fazer a desinfecção, que pode ser com uma solução de hipoclorito (cloro), quaternários de amônia etc.
Existem no mercado detergentes clorados, que eliminam a necessidade da desinfecção.
• Gaiolas – As gaiolas devem ser limpas todos os dias, retirando o papel da bandeja, lavando a grade com água e detergente e desinfetando-a com uma solução colorada a 300- 400 ppm (25 ml de cloro a 12% em 10 litros de água). É claro de outros desinfetantes podem ser usados.
O uso do calor para desinfecção das gaiolas é importante e deve ser feito pelo menos uma vez ao ano. Pode ser usado uma vassoura de fogo ou estufas.
• Poleiros – O uso da grade no fundo da gaiola, diminui muito as sujidades nos poleiros. O criador deve observar bem a posição dos poleiros para que ao defecar o pássaro não suje o poleiro que estiver abaixo.
• Os poleiros devem ser mantidos sempre limpos.
• Bebedouros – Devem ser bem lavados, escovados e desinfetados todos os dias, pois os trincas têm o hábito de umedecer o alimento, criando na água do bebedor um ambiente propício para bactérias e fungos.
• Comedouros – Devem ser limpos pelo menos uma vez por semana, mas o criador deve ficar atento, pois assim como nos bebedouros, o alimento umedecido incrustado cria um ambiente favorável principalmente para os fungos.
• Sala de criação – Não deixar acumular penas e restos de alimentos no chão. O uso de bandejas móveis sob as prateleiras diminui a necessidade de varrer o local todo o dia, estressando menos os pássaros.
O criador pode optar por duas formas de criação: MONOGAMIA ou POLIGAMIA, que dependerá da finalidade da criação.
A monogamia é o sistema onde há formação do casal, onde os dois ficam responsáveis por alimentar os filhotes.
Vantagem:
• Menor trabalho com manejo reprotudivo;
• Maior facilidade na alimentação dos filhotes.
Desvantagens:
• Gaiolas ou viveiros maiores;
• Necessidade de espaço maior para criação;
• Riscos de agressões aos filhotes;
• Melhoramento genético lento;
• Menor produtibilidade.
A poligamia é o sistema onde um macho é utilizado para cobertura de mais de uma fêmea, podendo chegar facilmente numa relação de 1:5.
Vantagens:
• Gaiolas menores;
• Verticalização da produção;
• Espaço menor para criação;
• Maior produtibilidade;
• Melhores condições de seleção genética;
• Menor riscos de agressões aos filhotes.
Desvantagens:
• Maior tempo dispensado para o manejo reprodutivo;
• Ajuda na alimentação dos filhotes.
MANEJO REPRODUTIVO NA POLIGAMIA
Nestas condições a fêmea é a dona do território, exerce dominância, chegando muitas vezes a demonstrar agressividade na presença do macho. O macho demonstra respeito pela fêmea, às vezes medo.
Para facilitar o cruzamento, precisamos de fêmeas dominantes sem agressividade e machos que respeitem as fêmeas, mas que não tenham medo.
Fêmeas muito agressivas ou macho com medo, representam maiores dificuldades para o cruzamento.
É comum as fêmeas de trinca pedirem gala mesmo não estado prontas. Este comportamento é chamado pelos criadores de “gala falsa”. Normalmente estas fêmeas são boas criadeiras e é um sinal que estão bem adaptadas ao cativeiro.
A “gala falsa” é uma dificuldade a mais na hora de fazer os cruzamento. Brigas são comuns e muitas vezes acabamos perdendo um bom reprodutor, por este ficar com medo da fêmea ou agressivo, não fazendo mais a cobertura.
Na tentativa de diminuir estes acidentes, passo a informar alguns cuidados e observações que o criador deve ter:
Somente tente fazer o macho galar a fêmea, se esta estiver confeccionando o ninho. Se ela pedir gala, mas estiver acompanhado os movimentos do macho, não é a hora.
A fêmea, quando pronta, fica estática, parece estar em transe. Portanto, se estiver movimentando a cabeça ou o corpo, ainda não é a hora.
Normalmente quando ela esta pronta, ela pede gala e junta as penas da cauda para facilitar a cobertura.
Use a grade divisória na gaiola da fêmea. Se o macho entrar na gaiola e ela continuar parada, é sinal que esta pronta. Então volte o macho para a gaiola dele, espere de 20-30 minutos e deixe-o entrar na gaiola, agora sem a divisória.
Se a fêmea pedir gala de costas para o macho, provavelmente ela vai deixar ele galar.
Estas são observações que podem ajudar, mas com o tempo o criador passa a conhecer melhor as fêmeas, e saberá detalhes do comportamento de cada uma, tendo assim melhores resultados.
As fêmeas podem continuar aceitando o macho por até 3 dias. A postura ocorre, normalmente, 2 dias após ela não aceitar mais cobertura.
Se o macho estiver com uma boa fertilidade, uma cobertura é suficiente para fertilizar todos os ovos. No início da temporada é importante deixar o macho fazer mais coberturas até termos maiores garantias da fertilidade. Depois é melhor diminuir as coberturas, assim poderemos cobrir mais fêmeas com um mesmo macho.
Os ovos serão incubados por 13 dias.
A ovoscopia, para se ter maior segurança, deve ser feita com 5 dias, mas a partir de 3 dias já é possível observar o embrião.
Nos primeiros dias de vida dos filhotes, a fêmea procura basicamente por alimento vivo. É importante fornecer também uma farinhada umedecida de boa qualidade, com níveis de proteína acima de 20%.
É preciso regular a quantidade de larvas de tenébrio, pois o seu excesso pode causar compactação nos filhotes.
O criador pode tentar não fornecer alimento vivo, para isso recomendo adição de 2-3 % de farinha de minhoca na farinhada.
Os filhotes devem ser separados entre 35-40 dias.
É uma fase crítica para os filhotes. O estresse da separação pode predispor o filhote a doenças, devido uma baixa nas defesas do seu organismo. Portanto devemos fazer o possível para evitar transtornos nesta fase.
• Não junte filhotes de mais de uma ninhada numa mesma gaiola. Caso não seja possível, pelo menos não deixe filhotes mais velhos com os mais novos. Os mais valentes podem bater nos mais novos, prejudicando o seu desenvolvimento e causando estresse.
• Fornecer um soro hidratante e ou um complexo vitamínico nesta fase é muito importante, pelo menos uns 7-10 dias.
• Mantenha os cuidados com a higiene. Os filhotes experimentam de tudo, inclusive as fezes. Uma gaiola com a grade alta no fundo, é indispensável.
• Uma grande preocupação nesta fase é com a coccidiose. Se possível, monitore com exames de fezes o número de oocistos.
• Sempre que observar algum filhote com problemas, separe-o para que possa ser melhor tratado.
• O principal é não deixar os filhotes adoecerem, pois a recuperação, dependendo do caso, é bem difícil